quarta-feira, 30 de julho de 2008

A um palmo da morte


Dizem que quando você passa muito perto da morte, seu corpo arrepia e até é possível ver seu capuz tecido pelo crepúsculo. Só sei uma coisa: passei bem perto dela e minha sorte foi que ela não reparou em mim. De quem é a culpa? De tanta gente que acabo não tendo dedos para culpar ninguém. Talvez seja dos assaltantes que trocavam tiro em plena 3 horas da tarde dentro de um túnel. Ou talvez das autoridades que não estavam no recinto ou da própria sociedade que não decide por um basta nessa violência.
Ou talvez, a culpa seja minha. Quem mandou eu ir pro trabalho naquele horário. Porque aquele ônibus e aquele caminho. O melhor era ficar em casa, eu sabia. Eu sabia.
Mas não fiquei. Ninguém que estava lá ficou. E enquanto o som metálico de tiros acertando a lataria iam aumentando, eu ia só pedindo por mais um dia de vida.Barganhando mesmo na maior cara de pau. Afinal quero ainda tantas coisas. Meu Anjo da Guarda me ouviu e distraiu a Morte. Só senti o arrepio e vi seu manto entre as traçantes no meio do túnel. Mas ela não olhou pra trás. E é só por isso que estou aqui escrevendo o texto de hoje.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Vírgulas de vida



Percebi que a vida é feita mais de detalhes que constatações óbvias. E as vezes estamos tão obcecados no ponto final que ignoramos as vírgulas. O que importa mesmo são as vírgulas. São elas que ditam os nossos períodos e entonações. Nossas metas.
É por isso que não olhamos pro céu. A noite serve pra dormir e não apreciar o luar. As pessoas na rua são estorvos. Cumprimentá-las seria dar motivo para interferências fúteis. Nossa boca serve para pedir e mandar. Agradecer e se desculpar são exageros de linguagem.
Talvez devamos quebrar algumas regras. Terminar nossas frases com reticências. Isso deixa a entender que eu continuo a conversa mais tarde. Ou ser mais radical. Fazer um texto sem nenhuma vírgula e ao concluir empunhá-la na frente de um abismo no lugar do ponto final.
O que sei é que devemos olhar mais para os lados e não apenas desfocar a vista para um futuro desejado. A vida ainda é feita no hoje. Devemos aproveitar então,



Ou pode ser tarde demais...

sábado, 26 de julho de 2008

notícias do mundo

Traficantes misturam cocaína com borra de café para tentar enganar fiscalização
Cerca de 50 kg de pasta de cocaína estavam embalados com borra de café para tentar disfarçar o cheiro. Os pacotes ainda tinham imagens religiosas e a marca do cartel que produziu a droga. Segundo a polícia, o material apreendido é cocaína pura. A droga já estava dentro do avião quando foi descoberta. De acordo com a polícia, essa é a maior apreensão do ano no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (Grande SP).
Assim, tem gente usando borra de forma leviana. Usar imagens religiosas apesar de ser pecado é mais comum. Mas borra sempre foi vista como algo do bem, quase inofensiva...
Exijo retaliação!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Notas do amor estão em baixa


Tenho todo dinheiro que quero, mas não consigo ter o suficiente.
Percebi, tarde demais, que não consigo comprar tudo.
Um sorriso sincero no meio do rosto, por exemplo.
O amor não aceita cartão de crédito, nem cheque pré-datado.
Não consigo precificar um abraço apertado
Nem tão pouco calcular o prejuízo de não o dar.
Contei centavos que valiam mais que muitas relações do passado.
E riquezas que não chegaram aos pés do que tenho hoje.
Mas quanto vale um reencontro? Um beijo sem preocupações?
Uma lágrima de saudade engolida por uma onda de sorriso?
Qual o preço que tenho que pagar pra que isso não acabe?
Quanto devemos investir se sabemos que aquele é o caminho?
O que significa o risco em frente ao sacrilégio de não tentar.
Pra que comprar pessoas, se os sentimentos não vem no pacote?
Abaixo o dinheiro pelo dinheiro.
Mensure seus sentimentos nos atos
E eles valerão mais que qualquer nota.


terça-feira, 22 de julho de 2008

reflexões sobre uma desbocada


Minha intenção não é santificar a Dercy Gonçalves com esse texto. Ela deve estar odiando esse pessoal falando que era um poço de simpatia, alegria e bom humor.
O fato é: Dercy morreu. Aconteceu um fato que eu julgava ser impossível. Aquela ali, na minha concepção, não ia jamais descansar em paz. Ainda iria aparecer nos jornais escandalizando a mídia e meus netos. Mas não. Ela era feito de carne e osso e embaixo daquele monte de plástica existia uma mulher como a gente.
Embaixo daquele desprendimento, coragem, ousadia e totalmente falta de pudor havia um organismo que segue a linha da vida. Dercy expirou.
Borra de Vida é um blog muito metido que quer se tornar um movimento. Uma nova forma de encarar a vida. Um jeitão bem Dercy de ser.Aproveitar a vida, rir da morte mas respeitá-la e saber que um dia ela vem mesmo. Quebrar convicções. Mulher não pode falar palavrão e tem que ser recatada e submissa? Dercy aproveitou seu século de vida o fazendo realmente ser seu. Enxergou novas idéias, valores e buscou fazer o que ela queria.
Sofreu mas saiu por cima. Apanhou mas usou a língua pra bater de volta.
O Borra de Vida deseja a todos, uma vida Dercy para todos nós. Interprete, caro leitor, como quiser. Mas se lembre do sorriso que essa mulher dava embaixo daquelas plásticas garantindo que ela estava linda porque ela estava realmente se sentindo assim.

sábado, 19 de julho de 2008

Palavras a quem entra na faculdade:



A faculdade é uma das maiores escolas da vida. Uma escola que raramente vai te dizer o que deve ser feito e te obrigar a tomar suas próprias decisões e caminhos. Talvez por isso seja tão importante... Não importa o que você faz lá dentro: está aprendendo lições. Até mesmo ao matar aulas para ir pra praia ou pro bar há um aprendizado implícito. É também, por essa falsa liberdade, um dos lugares mais perigosos. Santas de anos viram putas em duas ou três chopadas. Pessoas fracas entram de cabeça no mundo das drogas e deste não saem mais. Nerds viram vagabundos e desleixados. O mundo se transforma completamente.
Porque na faculdade, deve se experimentar de tudo. Das aulas mais sacais de teoria do cientificismo e econometria até seu primeiro swing.
Passar pela faculdade sem que ela te provoque desejos, perturbações e fome de saber é o mesmo que ir ao espaço sideral e ficar de olhos fechados sem apreciara beleza das estrelas. Pode até acontecer mas é um baita desperdício.
Na faculdade, não aceite que seus professores estão todos certos. Indague, critique. Escolha seus lados mesmo que vá mudar depois. Ser autêntico na faculdade é o primeiro passo para quando esta acabar.
Porque sim. A faculdade acaba. E a vida espera que você esteja adaptado ao novo mundo. Mas se você se enclausurou nas suas idéias primitivas ou na opinião dos mestres e doutores, então quem vai ser você? A voz de um mundo que fala por si só. Você vai ser descartado.
Como disse, a faculdade é uma das maiores escolas da vida. Por isso, se está matriculado nela. Sorria e aproveite tudo. Vá às aulas, inclusive nas chatas, e veja o que pode fazer para elas melhorarem.
Não faça só as suas matérias óbvias. Procure aliar engenharia com música, jornalismo com meio ambiente, direito com psicologia. Novas portas do mercado estão se abrindo e seria horrível se você só soubesse entrar nos velhos portões das profissões do século XX.
Viva intensamente. E vá entendendo o que está fazendo. Amadureça na faculdade e não no mercado de trabalho. Esse último gosta de ensinar espancando. Saiba que cada gota de aprendizado pode te ser necessário quando forem beber seu suco de conhecimento. E não só com as coisas dentro da sala. Porque a partir de agora, a faculdade vai ser sua escola. Dentro de sala ou fora.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

A simplicidade me surpreende


Keep it simple- Steven Jobs



Não precisa me agradar com uma cachoeira de presentes caros. Me dê um sorriso.

Não quero discursos pomposos, aceito objetividade carinhosa. Tire adjetivações mirabolantes com seus pedestais cristalizados e gélidos. Me dê emoções, sentimentos verdadeiros, palavras encantadas.
Se quiser, me mostre fórmulas e gráficos mas eu quero mesmo é resultado claro e cristalino que todo mundo olha e vê. Não precisa decorar com ouro para que me agrade. Coloque a mais pura simplicidade cheia de verdade e vai ver como irá me agradar...

Esqueça contratos, me dê garantias. Não me entregue o óbvio, o cotidiano, o clichê. Surpreenda-me, comece por cima, mostre você. Não me dê sono, me dê conforto. Nada de rotina, quebre as ordens de tudo. Não me fale o que já sei. Se quiser me convencer, alterne entre palavras e atos. Me dê o que quero, mas não se detenha a isso.

Me dê mais do que quero, me dê o que não espero. Me dê prazer. Mas sem florear demais. Seja direto. Me dê com simplicidade, um motivo para que meus sonhos fluam nas suas aventuras mais complexas.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Merda! Estamos de volta!



Ele senta em uma cadeira do camarim. Olha-se no espelho, recolhe lágrimas e remelas. Abre um sorriso. Por dentro está feliz, hora de voltar. Está no palco para uma platéia pequena mas muito especial. Maquia-se: recorre a personagens. É difícil ser ele no papel. Seus personagens são mais caricatos, mais sinceros, mais observadores. Levanta, pega um café quente e cheio de borra como não podia deixar de ser.

Anda pelo cenário, ajusta a iluminação, ajeita as poltronas...
Do bolso tira o script. Demorou 2 meses o elaborando, planejando e na hora H sabe que dali pouco vai fazer. Mas se convenceu que algumas mudanças eram necessárias. Mudou o visual e objetivos mas o texto vai continuar saindo do coração. Resolveu ouvir as vozes dos comentários tão carinhosos do ato anterior e aliar sonhos e realidade como sempre foi seu objetivo.

A ansiedade o pega de jeito e sente seus pés suando. Preparou algumas surpresas mas que só serão reveladas no decorrer do mês. Pretende surpreender a toda platéia e a ele também...Ouve o primeiro sinal. Algumas pessoas já querem ir assistir: tão carinhosas e gentis... Mas ele é um profissional. Veste-se com a melhor de suas roupas: um terno colorido berrante. O cinza está proibido por forças maiores. Olha-se no espelho do camarim e sorri ao ver que há uma criança no reflexo. Contudo, mais amadurecida, mais preparada , mais vivida.
Ouve o segundo sinal e abastece sua caneca de café com bastante borra. Agradece aos amigos de infância, aos amigos de blog, aos amigos amantes e aos amigos de luz .Ouve o terceiro sinal. E caminha para o centro do palco aos prantos.
Mas é um profissional. Recolhe lágrimas e remelas e abre um sorriso. Por dentro está feliz, hora de voltar. Lembra então do sorriso infantil no espelho e recorda-se que é o Homem mais feliz do mundo. Faz uma reverência a platéia e volta ao espetáculo!