domingo, 18 de maio de 2008

A verdadeira face


Um tapa bem dado. De direita pra esquerda com dedos abertos estalando naquele som típico. Um silêncio funesto se dá no salão com algumas risadas nervosas, lamúrios e pouquíssimas exclamações. Ninguém corre para ajudar, acalmar ou levantar um motim. Um garçom próximo seguiu sem ao menos desviar sua atenção levando canapés para a mesa seguinte. Achou oportuno não oferecer naquele momento aos dois. A música também não parou de tocar. Os outros, vendo que o tapa levara perplexidade ao agredido e agressor e nada mais, voltaram as suas atividades. Claro com um olhar de esguia para novos confrontamentos mas até então nada. Os dois voltaram a jantar.

Quando eu vi, dei o tapa. Assim, sem piedade mesmo . Só fiquei com medo da minha unha. Fiz ontem e coloquei esse azul turquesa. Até que essa cor ficou ótima, realçou na hora que estiquei a mão e acertei o rosto dele. Tenho certeza que vai tentar reagir e eu vou gritar. Claro, ele não pode me bater. Estranho, ele não diz nada. Deve estar esperando eu baixar a guarda, mas não vou dar esse gostinho a ele. Ai Meu Deus, será que ele vai chorar? Eu não devia ter batido. Ai, desligaram o som? Cadê o garçom, ele saiu de sopetão, podia pedir a ele a conta para sair daqui. Eu não vou pagar a conta depois de um tapa Nem a metade. E ele não toma nenhuma atitude. Vou sentar e esperar pra ver o que ele se decide. Hi, ele se sentou também. Como assim ele está pegando os talheres? Não me diga que ele vai voltar a ... Voltou a comer!! Que abuso! Como se nada tivesse acontecido, safado! Mas isso não vai ficar assim. Ele quer guerra? Vou comer também e depois daqui dormir com o primeiro homem que me aparecer na frente. Ele vai ver. Se o tapa não doeu o suficiente, ele vai ver o que posso fazer. Aguarde.



Há pera aí, será que ela vai me ba... Bater. Sim, tomei um tapa. Está todo mundo olhando pra cá. Tem um holofote apontando na minha direção. Pronto, ela acabou com o jantar.. E eu nem cheguei a provar esse caldo de manga no salmão. Dizem que é espetacular! Agora ela vai sair correndo e eu tenho que correr atrás. Talvez dessa forma dê para não pagar a conta. Ela sai correndo e eu atrás. No fim da esquina, eu pego um táxi e venho pegar o carro amanhã. Os casacos podem ficar. Com certeza não são tão caros. Mas ela não está correndo. Ela detesta chamar atenção. Agora deve estar arrependida. Não vou aliviar. Vou esperar ela dá o próximo passo. Ela me deu o tapa e agora tem que ou me bater de novo ou gritar ou sair. Mas ela não faz nada. Que demora... Ai o garçom ta passando com um canapé, volte aqui! Droga, não quis parar. Ganhei um tapa e perdi um canapé. E estava tão bonito. Hum, que cheirinho é esse. Há, sim, meu salmão com caldo de manga. Que aroma delicioso. Oba, ela sentou. Mas sem falar nada. Sinal verde pra sentar e voltar a comer enquanto ela não toma uma decisão. Será que ela vai comer esse camarão todo? Talvez ainda tenha esperança dela sair correndo e eu posso atacar o prato dela. Mas tem que ser rápido. Senão esfria.

Moral da história: Comida sempre apazigua. Da forma figurada ou não...

Um comentário:

Paty Augusto disse...

Adorei o texto e, principalmente, a estética dele, a forma como você muda o foco sem perder a linha de raciocínio...
Parabéns!
LYTMAF