sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Meu primeiro quase romance policial

Tic tac tic tac A hora passa, ele definha. Cadê o amor? Cadê o amor? Psicólogos, psiquiatras, advogados e polícia . Todos querem entrar na casa. Ele tem um refém. Ele tem um refém. A mídia sensacionalista se espreita na rua. Criam chamadas fantásticas. Ele vasculha a casa inteira. Ensadecido. Procura o amor. já revirou cadeiras, sofás e armários.
O amor não está lá. "Ele foi deixado" gritam os críticos de plantão. "Deixado". Ele atira contra um jornalista. Por sorte ou azar não acerta. A sociedade o julga. Procura antecedências criminais. Não tem. Ahh, tem sim. Com 12 anos roubou um buquê de flores. Criminoso. assassino. Tic tac, tic tac. sirenes na madrugada. Ele no sofá com insônia. Desliguem o som, apaguem o fogo do amor que ela me deixou.
"Ele foi deixado. Foi mesmo!" gritam as pessoas em frente a casa. "Deixado." Remédios, drogas, bebidas. Ele aparece na janela com uma foto. "Deixa o refém sair" grita a polícia. "Liberte esse filho de Deus que te acompanha" grita um padre transeunte. O refém não quer sair. Ele quer ficar. ele gosta de mim por enquanto. "Não gosta não" grita o psicólogo. "Deixe ele sair . Bota ele pra fora."
Se ele sair, eu fico sozinho grita o Homem. Silêncio na rua por alguns segundos. O detetive do caso ia falar engasgou em uma dor oculta no seu peito. Depois rosnou. "Saia e deixe ele aí. Ele deve estar com medo."
Medo? E o medo de ser deixado. O medo de passar a vida sem ser amado, sem ser ouvido. O medo de se acabar em cinzas. "Do que ele está falando?" " não sei, pergunte do buquê das flores quando tinha 12 anos." "Pra que, senhor? Qual a relevância dessa história?" "Não sei, mas quero ouvir. Temos que entender com quem estamos lidando." " Sequestrador, conte quando roubou o buquê aos 12 anos."
Essa época eu era um homem sonhador. Eu amava. Tinha uma namorada. Manuela. Quis fugir com ela. Casar, viver em um palácio. Dei as flores roubadas porque aliança devia ser mais perigoso. Descobriram. Ela não aceitou. Eu apanhei. Ela não aceitou... Vocês acreditam nisso?
A vida inteira busquei o amor. Mas ele não está nessa casa e não estava naquele buquê também.
Ele chora. A polícia levanta as armas. Tem pessoas emocionadas. Os jornalistas aumentam a iluminação e deixam o ambiente com um ar de século XVII. Ele entra na casa devagar e lá se ouve um som. Um tiro surdo mas com eco.
O psicólogo entra. Atrás um jornalista. No final, com sorte, entra os policiais.
Está lá. Ele morto. Suicídio. Tiro estrelado no meio do cérebro. Na escrivaninha uma carta com um convite de casamento. Não era dele. Olha senhores, parecem lágrimas. "cadê o refém?" Eu entro na casa. "Não tinha refém físico" falo com voz rouca e calma. "Como assim e quem é você?" "Sou apenas o escritor, relaxem, queria um papel nesse conto. Ele tinha um refém sim. Ele mesmo. Agora estão mortos."
"Causa. Suicídio?" gritou o jornalista. "Mas e agora? Não podemos cobrir suicídio. O editor não gosta." " Ele foi ssassinado" eu digo. "Morto por um louco que desistiu do amor. O desesperado matou o apaixonado."
No dia seguinte, os jornais deram essa versão do crime. E ele descansa em um lugar que ainda existe a iluminação do século XVII, buquês de flores e o tal do amor.

3 comentários:

Paty Augusto disse...

É de arrepiar... Fiquei até sem palavras. Muito bom!!!
LYTM
Paty

Anônimo disse...

Maravilha,czarinus!!
A charlataria se orgulha de ter um talento assim em seus quadros!!hehe
ao menos um,né?hehehe
mas serio,fikei até emocionado qd li!!

Hudson Pereira disse...

Luiz!

Que conto impressionante!
Um traço angustiante,como o próprio sentimento.

Nesse ramo todos já fomos reféns e bandidos...

Grande abraço!