“Ninguém é insubstituível”. Com essa frase, soltou seu copo de whisky escocês e expirou. Morreu, foi pro beleléu, bateu as botas. Fiquei observando como expectador passivo todo o restante da história. Substituíram seu pijama de seda por um terno. Seu último terno. Sua esposa substituiu o sorriso sereno por quase 7 meses de luto. Usava preto todos os dias e em todos os locais. Mas substituía a roupa. Higiene a cima de tudo.
No enterro, o padre fez a mesma oração, mas substituiu os salmos que costumava ler. Razão: o homem morto merecia um destaque. Ele era bondoso, trabalhava como ninguém. Quase não parava em casa. Mandava presente pro filho pelo correio e beijos pra esposa por orelhão. Dizia que a amava. Dizia que ela era insubstituível. Dizia que nada substituía o verdadeiro amor. Dizia que um dia, eles iam substituir essa vida louca por algo mais estável.
Na hora de abaixar o caixão, a esposa com óculos escuros sofria em silêncio. Sua secretária, Dona Carminha, chorava copiosamente. Sem nenhum pudor, sem nenhuma vergonha, sem nenhuma moral. Dizia que seu chefe, seu amigo e seu amante era sim: insubstituível.
A esposa , quieta, não expulsou Dona Carminha. Não a xingou, nem mostrou interesse pelo que ela fazia. Porque, pensava ela, nem Dona Carminha , nem ninguém sabe da verdadeira história.
Ninguém sabia que ele tinha a substituído pela Dona Carminha. E ele não sabia que ela viu tudo durante uma noite de sexo ardente do casal de amantes. Ela, por sua vez, substituiu o barraco pela compreensão: ele a substituíra , mas por dizer que ela era insubstituível, essa seria a última vezdesse leve engano.
E horas depois, ele na sala fingindo leveza com a esposa a beija apaixonado e ela, santa, retribui. Um beijo quase insubstituível... Ela então traz um copo do seu favorito whisky. O escocês, 12 anos. Ele sedento, bebe o primeiro gole com a vontade de não substituir jamais aquele momento. Ele repara tarde demais o equívoco. Ela substituíra o whisky. Colocara veneno puro. E enquanto ele se intoxicava e mudava de cor, ela pôs no vídeo, as cenas filmadas e flagradas dele com Dona Carminha. Ele substituiu a dor pela raiva. Pela última vez. Com ódio, quis deixar selado em um epitáfio a máxima da sociedade.”Ninguém é insubstituível.” Se quiserem acreditar ou não, a decisão é de vocês. Mas a esposa parou o vídeo, limpou os vestígios e foi trocar de roupa.
E horas depois, ele na sala fingindo leveza com a esposa a beija apaixonado e ela, santa, retribui. Um beijo quase insubstituível... Ela então traz um copo do seu favorito whisky. O escocês, 12 anos. Ele sedento, bebe o primeiro gole com a vontade de não substituir jamais aquele momento. Ele repara tarde demais o equívoco. Ela substituíra o whisky. Colocara veneno puro. E enquanto ele se intoxicava e mudava de cor, ela pôs no vídeo, as cenas filmadas e flagradas dele com Dona Carminha. Ele substituiu a dor pela raiva. Pela última vez. Com ódio, quis deixar selado em um epitáfio a máxima da sociedade.”Ninguém é insubstituível.” Se quiserem acreditar ou não, a decisão é de vocês. Mas a esposa parou o vídeo, limpou os vestígios e foi trocar de roupa.
2 comentários:
Muito bom... adoro seus contos e estou feliz por este recente, saído do forno...
Continue assim, substituindo os contos antigos por novos ainda melhores...
Te amo!
Este foi de chocar! O insubstituível sempre acaba sendo ressaltado por um lado bom, do tipo "ah, meus pais são insubstituíveis; meu namorado é insubstituível" mas nunca paramos pra pensar se nossos defeitos, falhas, manias, são ou não substituíveis. Achei legal o seu conto, retrata um problema muito comum dessa atualidade: a própria globalização, que torna cada vez mais e mais coisas insubstituíveis...
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