sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Vida sem rumo 2



Quando me dei conta, o susto. Um misto de pavor e ansiedade. Estava sozinho. Sem nenhuma influência, comentário ou imposição sugerida. Tudo bem que não vale.Estava na terceira cabine do banheiro do segundo andar da rodoviária Novo Rio. Mas mesmo assim: Sozinho! Tentou-se lembrar dos últimos dias que pôde ficar sem ouvir vozes conhecidas com ladainhas pré-fabricadas. Há quanto tempo não ouvia seu inconsciente. E então, o inconsciente se manifestou. Não que tenha sido um fato bom, afinal: ele estava acuado, sentado em um vaso sem poder escapar dos berros que vinha de dentro de si.
- O que você pensa que está fazendo da sua vida? Seu mané! Você não quer isso. Não faça. Não faça.
- Não se meta. Deixa a vida me levar.
Mas os esporros no palco interior não cessaram por aí.
“Era domingo 17 horas e eu no banheiro da rodoviária com uma passagem para São Paulo. Sem muito o que fazer, apenas liguei o piloto automático e as coisas estão se conduzindo sozinhas. Vou fazer prova pra trainee. Uma grande empresa. Ajustar minha vida. Dar um jump na minha carreira, mesmo que seja pro lado errado.- PSSST! Não dificulte as coisas menino. Está tudo ótimo.
É está tudo ótimo. Vou deixar papai feliz. Mamãe orgulhosa... E o seu Zé, o padeiro da esquina- o melhor pãozinho do bairro em promoção- tão contente. Todos eles me apoiavam. Estavam do meu lado. Se eu me calava, eles decidiam. Se eu falava, me ignoravam. Tudo como deve ser. Senta-me amparado, acolhido. Meu pai tinha um quadrinho com a minha vida planejada até os 50 anos. Não sei porque ele não continuou. Eu queria saber o quanto ainda vou viver. Tinha até um tal de MBA. Super chique. Da moda. Minha mãe as vezes olhava para o alto e suspirava. Quando eram dois suspiros breves e um terceiro mais profundo, ela estava idealizando meu futuro. Via o local, a roupa, a mulher certa e o casalzinho de filhos correndo pela casa, fazendo aquela bagunça salutar. Mamãe sempre dizia que tem que ser dois. Se ela diz , quem sou eu para discordar? Tudo tão óbvio. Minha vida como um quebra cabeça com peças numeradas e coloridas estrategicamente para ficar mais fácil. Fácil... que palavra complexa.Compreensão até difícil apesar de suscitar paradoxos burros de conceito. Nunca soube distinguir o que era fácil ou não porque sempre fui colocado no caminho certo.Certo pra quem eu nunca perguntei. Afinal quem sou eu pra tentar entender algo da vida? – Você não sabe nada ainda- É muito jovem.- Eu já andei por esses caminhos e sei que você tem, que ir por aqui. É aqui. Faz isso. Aquilo. Ali-
O salgado e doce me foram doutrinados desde cedo. Nunca botei açúcar na empada ou sal no leite. Nunca experimentei nada fora das CNTP´s da sociedade. Se faz mal porque provar? Se machuca, porque pular? Se é arriscado, pra que tentar? Acomoda-se menino- Deixe que agente toma conta de tudo pra você. – Isso é complicado. As vezes se torna uma merda. Merda... Em falar em merda.Lembrei-me de onde estou. No vaso da rodoviária. Quase que me perco nesses pensamentos fúteis. Reúno tudo e dou a descarga. As merdas descem pelo esgoto. Anseios, desejos, ambições, todos se vão porque sonhar também fede. Todos os questionamentos se esvaem no funil do meu inconsciente. Calça pra cima e mãos lavadas. Olhos pra baixo. Não olho pro espelho nunca. Não quero saber o que estou refletindo. Chegou a hora,. Bilhete para São Paulo.Pensei no quadrinho do meu pai. O que tem depois dos 50? Pensei nos suspiros da mamãe.Naquele momento, ela deve estar suspirando mais que nunca. Quão orgulho! E o padeiro, Seu Zé- o melhor pãozinho da cidade em promoção- Deve estar torcendo por mim entre uma fornada e outra. Sou o resultado de desejos e especulações. Eu não posso decepcioná-los Embarquei no ônibus e vi meu destino tercerizado mais uma vez. Respirei aliviado e me acomodei na acolchoada poltrona cheia de traças invisíveis.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Capítulo 1 _ o sumiço

Aves negras
Que voam sem nexo
Me levem daqui
Esse mundo complexo
Com sangrias a ferir.
Me leve até a paz,
A calmaria sentinela.
Aqui eu não volto mais
Pulo agora dessa vida.
Despeço me sem choro.
A lágrima é saudade ,
E isso, não teremos
Alumínio intacto.
Mármore para dois.
Foi..fomos.Adeus.
ulisses ventura
Nossa história começa com essa poesia. Um mistério. Realmente enigmático. Foi a última escrita por Ulisses antes de sumir. Ele, Luciana e o pequeno Gabriel. Gabriel é o que achamos porque criança mesmo, nós nunca vimos. realmente, eles sempre foram meio doidinhos mas dessa vez passaram do limite. Sumir assim sem deixar um bilhete decente? Já tinham aprontado. Sim, já tinham. mas eram crianças, adolescentes. feitos mais emenos. Mais rebeldes do que aventureiros. Na verdade, Ulisses e Luciana nunca se encaixaram no padrão. Cresceram juntos e desde cedo aprontaram. Aos 6 anos( eles tem a mesma idade) correram com mais alguns vizinhos e soltaram uma dúzia de cachorros de suas casas. Disseram que queriam salvar os bichinhos...
Aos 12, com alguns cacos de vidro cortaram a mão de 8 crianças para uma seita que haviam acabado de criar. Seria a forma de se salvarem. Conseguiram é um mês de castigo e a tentativa dos pais de ambos de terminar aquela amizade-namoro. Conseguiram foi aproximar mais os dois e aos 13 rolou o primeiro beijo. Estão juntos até hoje. Unha e carne. Hoje com 21 anos e sumidos. Desde os 17, os dois estavam meio sumidos. Distantes. Não tinham mais planos mirabolantes e isso era estranho. Acharam que era maturidade mas não. Estavam planejando algo grande. Algo como nunca antes feito. Eu sei como é. Luciana e Ulisses nunca foram de pequenas coisas. com eles ou o céu ou nada feito. Mas agora vamos aguardar até segunda. Respirem bem e vou contar um pouco mais desses dois e do tal do Gabriel, se é que ele exista!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Vida sem rumo 2


O trem da liberdade

Bilhete para as dez.
Apenas ida, por favor.
Olhos consternados,
Pequenos e com 11 anos.
A bagagem é fantasia,
O bilhete também.
Mas a vontade, real.
No bolso dois reais.
Duas figurinhas, uma tampinha.
Despediu-se de todos.
Da árvore e do cachorro.
Desceu a favela.
Perdeu o trem das dez.
Tentou correr e perdeu a tampinha.
Pulou cercas e rasgou uma figurinha.
Foi encontrado pelos pais.
E perdeu o dinheiro.
Teve o castigo por querer ser feliz.
Olhos tristes no quarto mais escuro.
A árvore e o cachorro o consolavam.
Seria difícil fugir.Menino consternado.
Ainda sobrou uma figurinha. Hum...
Bilhete para as onze, por favor.

Luiz Cezar O . marinho

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

introdução

Sentem-se! Sentem-se todos. Pode ser no chão, vamos. Sentem-se todos.
Façam um círculo e preparem-se pois uma história, eu hei de contar. Aconteceu em uma época não tão distante, em um povoado não tão perto. Um romance lindo entre dois jov...
-Parou, parou. Para tudo que eu quero descer.
- O que foi, menino?
- Você vai contar um romance?
- Sim, vou.
- Romance de um casalzinho?
- Exatamente. A linda história de Ulisses e Luciana.
- Há, para tudo. E olha o nome que você escolhe. Um herói de Homero com um nome comum...
- Esse romance promete ser diferente. Será um romance interativo.
- Como assim, velho? Pirou de vez!
- Altas tecnologias nos fazem delirar, menino. Esse romance é uma mistura de lições de vida, ficção e realidade. Para aqueles que me ouvirem pode servir para contar a alguém para dormir ou para sonhar. Minhas histórias prometem Uma realidade quase fictícia, e um sonho quase real. Um conto de fadas que precifica o feijão. Uma vida real que pode se tornar mais doce se degustada com intensidade. Não espero ter legiões de fãs ou ser aclamado nas multidões. Para mim, basta um sorriso sincero se a história o agradar.
- ...
- E como eu dizia é um lindo romance entre dois jovens de realidades bem diferentes. Um com a vida cheia de prazeres e de intensidade. Com o suco da vida. A outra, bebia os últimos goles de uma vida rala e sem nata.O que os dois fizeram, foi juntar suas realidades e beber cada gota da vida como se fosse a mais doce gota do café amargo.
Quem gostou desse início que continue conosco. Todas as segunda-feirass em doses homeopáticas a história de Ulisses e Luciana. O casalzinho que mudou a vida desse velho que vos narra. E espera de coração, que a história mude a de vocês.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Referências de inspiração


Hoje a Borra de Vida fala dos que inspiram. Dos grandes autores, filmes inesquecíveis, contos lendários. Sem preconceito algum. De William Shakespeare a Bruna Surfistinha.: afinal o poeta é um prostituto das palavras ou um gigolô da semântica! A nossa relação com as letras é tão sexual que se a palavra for nova pode se tornar pedofilia. Sempre tive uma admiração enorme por Walt Withman. Um tarado pelos poesias maravilhosas, pelo mar e a história de seu país. Um grande poeta e patriota americano que é pouquíssimo conhecido. Aqui e lá. Talvez vocês conheçam um pouco porque no filme Sociedade dos poetas mortos, o professor recitava vários trechos de suas poesias, incluindo o jargão “Capitão, Ó meu capitão”. O livro Folhas de Relva é maravilhoso. Autor que inspirou Fernando Pessoa, também me dá muitas dicas e eu espero as usar bem. Vou concluir esse texto com um trecho de um poema dele que mostra o quão o mundo é maravilhoso. Se agradar, procure na livraria mais próxima e brade conosco no mar da literatura atrás de ondas de saber e brisa da inspiração.
“É maravilhosos o fato que devo ser imortal? Todos são imortais; mas o alcance de minha vista é igualmente maravilhosos e o modo pela qual fui concebido no ventre de minha mãe é também maravilhoso. E o ter passado da fase de bebê que engatinha, em alguns verões e invernos, para a de um ser que fala e anda- Tudo isso é maravilhoso.
E que minha alma te abraça nesta hora sem que haja contato físico entre nós
Sem que nos tenhamos visto e talvez nunca nunca venhamos a nos ver, em cada detalhe, é maravilhoso.
E que eu possa te fazer lembrar desses pensamentos e que tu também terás e saberás que são verdadeiros, é também maravilhoso”
Walt Withman- Folhas de Relva- Quem aprende minha lição inteira?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

vida sem rumo



Da criança ao vestibular

Acorda, nasce... Está na hora de pular dessa barriga, vem!
Vem que as chupetas em promoção já te esperam...
Consumidor de colo, chega mais!
E quando não fica no braços da mãe,
mamando nas tetas do governo materno,
está no berço enjaulado pagando por crime que não cometeu.

- Ô injustiça, exijo mudanças. Aonde é o balcão de reclamações? Vou chorar porque é o alarme mais eficiente que eu conheço. Vou chorar porque todos ouvem. Vem a coroa de cabelos vermelhos puxadora de bochecha que se chama avó; vem o parente dela fazendo palhaçada e me colocando no teto, vem a mamãe com cara de sono e eu a coloco pra ninar tirando aquele leite dela todo que devia estar a incomodando....

Para de brincar só com esses bichinhos.
Vai pro maternal, vai pra creche, vai pra aonde for.
Lá você vai aprender a ter uma vida pra ser doutor.
A jaula não é mais no berço, enfim!
Agora calcule a metade de um terço pra mim.
E faça o que a tia mandar
senão um pesado castigo
a tirana vai te passar.
Tabuada, capitania, tabela periódica, capitais,
Chibatada. Alforria, Era cenozóica, Nunca mais!

- Pra que estudar esses hominhos que já morreram? Se meus pais não sabem mais deles também, nem deve ser importante. Dizem que tudo que eu faço agora, vai se resultar no meu futuro. Mas parece que o meu futuro já tem hora e local pra ocorrer. Eu me preparo que nem um maluco pra esse tal de vestibular. Que tem prova com questões idiotas só pra eu decorar. Tomara que pergunte o que já estudei. Se perguntarem quem sou. Teri que dizer, não sei!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Bem vindos!


Abre as cortinas do teatro. Abre as cortinas da vida. Um blog, um exemplo. Uma tentativa de um mundo melhor? Ou apenas palavras que vão entrar e sair sem nexo.
Borra de vida é antes de mais nada, um convite. Quanto tempo ainda temos? Muito pouco....
Quantos amigos preservamos? Quase nada! Quantas paixões intensas vivemos? Tirando os beijos de contrato e sem sentido. Os beijos fáceis e desavisados. Encostões de língua. Tirando todos estes. Quantos já tivemos? Quantas vezes expressamos nossos sentimentos verdadeiros e não lapidados pelo cinismo e etiquetas da sociedade? Quantas oportunidades perdemos, pois é muito arriscado seguir os sonhos? Quantas vezes deixamos para o amanhã e esquecemos de vez? Quantas mentiras contamos para não provocar grandes mudanças? Quantas vezes nos conformamos com as situações, com as pessoas e suas atitudes.
Pensem nas inúmeras discussões que tivemos que não valia a pena. Ou o contrário: em todas as nossas omissões e depois aquele pesar por não ter participado, lutado, ido em frente! Somos covardes, cidadãos! Nossos mundinhos cinzas e sem graça nos enganam uma vida razoável, mas é fácil saber se estamos indo pro lado certo.
Pegue um papel ( reciclado) e escreva três perguntas. Só três. São elas:
- Se hoje fosse meu último dia de vida, eu estaria prestes a fazer o que vou fazer agora?
- Eu estou indo atrás dos meus sonhos ou dos sonhos dos outros?
- Eu sou feliz?
Pergunte-se todos os dias ao acordar. Se as respostas não te agradarem, é porque sua vida podia ser melhor.
Borra de vida convida todos os leitores, a conhecer o mundo colorido e adocicado da vida.
Passe a freqüentar pelo menos uma vez por semana. Vamos tentar fazer um mundo melhor.
A campanha Saia da Porra de vida e venha pra Borra, está lançada!
A cortina está aberta em definitivo.


Tudo que nos separava, subitamente falhou
Rubem Braga

domingo, 9 de setembro de 2007

Regras do jogo!

Vou explicar as regras do jogo. São simples, eu juro...
Se quiser pegue um lápis. Caneta não, caneta nunca. Caneta marca pra sempre e mesmo que apaguemos com corretivo, fica a marca eterna. Ao usar papel para anotar, use papel reciclado. Ou use um outro lado de uma página já usada. Essa pode ser a regra zero: Salve o planeta. É o único que temos.

1- Borra de vida é um blog que vira romance, divagações e viagens plutônicas.
2- Como visitante da Borra você tem o direito de entrar sempre, de não ler todos os posts, de chorar ou gargalhar com tudo que há dentro dela.
3- As atualizações não têm contrato de dia certo para ocorrer, mas sim, vontade própria. Não sou eu que crio personagens. São eles que se exigem aparecer ou sumir do mapa. Sejam pacientes.
4- Qualquer texto pode ser copiado, impresso, declamado (declamar, eu sugiro pro seu bem que não... Se ainda fosse textos do Pessoa...) Contudo, peço apenas, que diga aonde o achou ou de quem é. O autor sempre agradece.
5- No fim do blog, desejo publicar um livro. Pode ser sobre o romance em si ou sobre as divagações e as viagens plutônicas. Eu já espero todos na noite de autógrafos.
6- A vida é feita de momentos incríveis. Borra de Vida tenta resgatar esses instantes e nos ensina a viver mais e melhor. Não há dosagem diária recomendada dessa substância. Mas não fique muito grudado em um computador. Se possível, imprima algumas páginas ( em papel reciclado, claro) e leia no campo, na praia ou deitado na cama comendo chocolate (Atenção: essa última combinação se feito a dois, pode causar efeitos afrodisíacos)



Para interessados em receber informações adicionais sobre o blog como datas, eventos e novos posts, basta entrar no grupo enviando um e-mail para:
borra-subscribe@yahoogrupos.com.br

sábado, 8 de setembro de 2007

preliminares 0

- Vamos lá! Vamos lá! Falta pouquíssimo tempo agora! Alguém coloca um tapete decente no palco! Já chamaram o encanador pra cuidar dessa infiltração? Daqui a pouco vamos precisar de uma arca de noé aqui dentro! E essa cadeira mofada! Troquem a fileira inteira! Vamos! E cadê a iluminação que eu mandei ter pro recinto? Eu disse diminuir a luz e não apagar tudo! Isso aqui não é um romance gótico! E pelo amor de Deus!!! Que arranjo de flores horríveis são esses aqui. Não quero saber se foi sua avó que fez com todo o carinho. Troca o arranjo! Troca de avó! Faça alguma coisa! Agora!


O blog Borra de Vida inaugura 10 de setembro. Não percam!!!
- Corre gente! Parecem um conjunto de lesmas depois do almoço!!!! Alguém traz um café pra mim! O maluco desse blog vai inaugurar em algumas horas! Nem adianta chiar! Já tentei prorrogar algumas horinhas mas ele foi irredutível. Besta como só ele! Nem dá pra entender que coisa é essa. Borra de vida! Ele comentou que vai ser um conjunto de divagações, romance e auto ajuda. Parece mais um resultado de um trabalhinho de um internado em hospício. Só eu mesmo pra me sujeitar a fazer parte de uma merda assim. E vocês ? Tão parados por que? Por acaso acham que já ta tudo pronto? Não, pó! Não ta. Se os leitores não gostarem do que virem aqui, eles não voltam mais, ok? NÃO VOLTAM MAIS! Quanto mais eu rezo, mais eu me afundo. Que café é esse? Demorou tanto que eu já perdi a vontade de beber. Mas faz o seguinte: engole você e vê se tem borra! Depois taca na parede e se escorrer, Ele vai gostar. Esses escritores estão cada vez mais exóticos.