terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Tudo bem , vai passar



Um menino qualquer solta uma pipa colorida inocentemente. Próximo, um homem de roupa social abastece o carro e assiste o desempenho da pipa. Lembra de sua infância sem aquelas roupas, com uma pipa , não tão colorida, mas feliz. Feliz como a pipa. Feliz como aquele menino. Feliz como ele já foi. Nas divagações, lembra da noite passada e sente calafrio. A pipa continua lá em cima, cada vez mais alta. Lembra de ter finalizado uma conversa com uma pessoa que tinha um carinho especial: “Tudo bem. Eu sei que vai passar”. E ele de roupa social, magoado e vislumbrando com olhos marejados, a pipa que se perdia no horizonte. Bem próxima a uma outra que vinha veloz e direta.

Lembrou-se que apesar de ter dito, não estava conseguindo que aquilo passasse. Afinal, não era tão simples. Ele tinha sido magoado, se sentia esquecido. Estava correto de se sentir culpado. A outra pipa envolveu a do menino de forma quase paternal até que em um corte magnífico a pipa do menino soltou o cordão umbilical e bailando no céu anunciou a sua jornada para o chão. No horizonte a pipa vinha lentamente, agonizando sua descida caótica. Crianças já corriam desordenadamente pra tentar afanar o papagaio. O homem continuava intacto, parado junto com o menino que estranhamente sorria e também não se movia.apenas,com os olhos pra cima, via a dança de sua pipa. O homem já havia abastecido e sentiu uma pena do menino. Ou vai ver, sentiu dele mesmo. Afinal, nem conseguiu filosofar em cima da pipa por completo. Sentia-se infeliz, mas preferiu dizer que o menino estava triste. E chegou perto dele, tentou o consolar: - Não fique triste com a pipa, vai passar.” O menino que com sorriso se tornava ainda mais menino, disse: “não se preocupa moço. Já passou.O final da pipa não me importa. O que vale é que ela subiu mais alto que todas as outras. Não é como se está hoje, mas aquilo que se guarda na memória.” E saiu como se nada tivesse feito. Como se nada tivesse dito. Nem percebeu que deixou o homem chorando maravilhado no posto. E a pipa ainda dançava no céu!

Um comentário:

Paty Augusto disse...

Amigo, vc cometeu um leve engano. Você começa o post falando de um menino comum , mas termina nos mostrando que esse menino jamais poderia ser humano.
Calma, explico:
Nenhum humano aceita a perda ou a decepção tão rápido. Impossível chegar ao "Já passou" antes do "Vai passar".
Esse momento do "Vai passar" é onde refletimos sobre o acontecimento em questão e pesamos a sua relevância. Dependendo de nossas conclusões podemos chegar ao "Já passou" ou ao "Não passará jamais". Tudo isso pq somos Humanos.
Só me preocupa as pessoas que concluem sempre pela ultima opção. O que não é o seu caso e nem o meu.
Por tudo isso, não devemos nunca temer o "Vai passar", pq o "Já passou" pode estalar de imediato na língua, mas não condizer com os sentimentos do coração...