Sim, foi ontem. Durante uma aula para a sexta série. A menina me levanta o dedo e pergunta baixinho qual a diferença entre acreditar e persistir. Pergunta extremamente pertinente, já que no quadro havia impresso um banner com esses dois conceitos. Mas eu vacilei. Sabia a resposta, tinha tudo na ponta da língua, mas confesso que um filme passou na minha cabeça. O texto que se segue foi pensado em alguns milésimos de segundo, mas a mente humana, essa fantástica máquina de idéias, cria séculos de reflexão que duram um ou dois suspiros.
Quantas vezes acreditei, mas não investi? Quanto tempo deixei que escorregasse pela minha mão, sem oferecer nenhuma resposta para meus dilemas? Meus breves e ínfimos dilemas... E quanto mais o tempo passou, mais sonhos. Maiores. Mais complexos. Minha capacidade de acreditar e ser acreditado. Uma benção. Uma maldição. Reunir seguidores em uma idéia minha. Quantas vezes fiquei sem dormir com medo de cair e derrubar alguns outros que , estavam no mesmo barco de crenças que eu?
Com o passar do tempo, a gente muda. No início somos todos inocentes. Depois nos tornamos sabichões. Pelo menos, é isso que a gente acredita nesta fase. Na verdade, existe a terceira fase, a verdadeira fase do amadurecimento, das idéias claras, dos pés calejados depois de descobrir , de forma tão amarga, que não somos tão sabichões como imaginávamos ser. Engraçado, que nessa nova fase, a inocência volta. Tudo é novo. De novo. È possível recomeçar, aprender novos técnicas, desenvolver habilidades, não parar.
No final, vai acumulando tudo. E a gente já faz respostas com mais bagagem e menos presunção. E é aí que a gente vê se uma idéia realmente vale a pena. Porque acreditar é mais fácil. É fácil me convencerem que aquilo é possível, que a Terra é redonda, que algo vai dar certo ou não. Mas persistir em uma idéia é quantificar o quanto você acredita. O quanto você arrisca. E aí, em plena sala de sexta série, tudo ficou claro pra mim. Hoje eu posso dizer que persisto com garras e dentes atrás dos meus ideais. Hoje eu ainda digo que acredito. O que mudou foi o brilho nos olhos, o cansaço de estar na luta, mas a vontade de continuar.
Quanto voltei dos meus devaneios, havia uma criança na minha frente. Refletida nos olhos de uma outra que segundos antes tinha feito uma pergunta. “Estou bem” Foi o que pensei antes de dar a resposta. Acabei dizendo um pouco do que escrevi aqui em cima, mas de forma mais conceitual e sem colocar exemplos próprios. Acho que deu certo. No final, a menina (que também deve ter seus séculos de reflexão passados em alguns segundos) conclui a minha fala: “Muita gente acredita, mas poucos persistem”. E eu saí da sala com aquele gostinho de missão cumprida.
Um comentário:
As crianças são seres realmente fantásticos, do momento que nos fazem refletir com seus questionamentos, até nos surpreender com suas conclusões...
Minha crença anda meio abalada, mas continuo persistindo, pois ainda insisto que a Educação é o melhor caminho para um mundo melhor!
Beijos, lindo!
Postar um comentário