Parece que foi ontem que te vi nascer. Tão pequena e enrolada nos vícios da linguagem. Rimas paupérrimas seria o rótulo da crítica. Mas pobre de que? Carente de preconceito, sem palavras rebuscadas e exigências sintáticas. Eram sentimentos que brotavam em uma letrinha cheia de garranchos. E dessa forma, cobertor esquentava o primeiro amor e a vela brilhava os olhos dela. Acho que nunca mais fui tão romântico. Tão sincero. Tão eu. Preocupado com a fôrma e a forma, deformei meus versos em busca da obra de arte. Enquanto mais esculpia em mármores caros sonetos simétricos e rimas criativas e ricas, perdia a ingenuidade da criança escrita que só queria brincar. E logo, eu a ensinei a se comportar, como deveria aparecer ao público e criamos estratégias incríveis de sedução. Os aplausos eram certos e constantes. A rotina nos obrigava a produzir em linha de produção crônicas, artigos e até memso poesias que tinham um tempero calculado de originalidade e um vazio de sentimento. Ela correspondia a tudo, mas parece que ficou aliviada quando as contas a pagar da gaveta trocaram de lugar com ela, se tornando prioridade e deixando a jovem escrita repousar em uma gaveta do esquecimento.
Cresci como um profissional óbvio. Galguei passos importantes na minha carreira e atingi postos importantes e até invejáveis. Mas as vezes, um vazio me enchia e um grito surdo estremecia meu universo sem som.
Faltava algo. Por isso, te procurei na gaveta .
Você, já uma mulher feita mas com cabelos coloridos e tatuagem na batata da perna escrito carpe diem, me abraçou como se não tivesse tido ontem. Beijou minha boca como uma esposa fiel, me ninou confortavelmente como uma mãe que agora ensina o filho e se colocou ao lado para preencher o meu vazio. O que vem depois? Difícil dizer. Estou no limite do presente da narrativa que te mostro. Mas posso garantir que hoje entendo a necessidade desta senhora escrita que afaga meus cabelos neste momento. A preta velha que tudo me ensinou e que agora vê em meus olhos, aquele olhar apaixonado voltando. Eu sigo em frente buscando o equilibrio. Falam sempre que é necessário escolher, mas se os caminhos que se abrem está entre o caminho certo e o caminho feliz, busque o terceiro. É o que faço agora.
Venham comigo. Prometo no mínimo, um gole de café com borra e uma dose de aventura na estrada da vida.
Eu até hoje nunca conheci quem não gostasse de Borra. Sem malícias e delícias, borra é aquele líquido mais grosso do café e do nescau. É onde fica todo o açúcar que apesar de ser proibido pelos médicos, é o melhor da bebida. Borra de vida evidencia os momentos doces e incríveis e nos convida a partir para uma viagem pelo lado tão bom e tão esquecido da vida. A viagem é arriscada e pode nos fazer não querer mais voltar a nosso mundinho cinza. e daí? Vale a pena o risco.
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