terça-feira, 29 de abril de 2008

Filhos do Brasil



Eu nunca tinha falado a sós com Emílio. Vejo que tem uma mão mutilada com apenas dois dedos.
- O que aconteceu com você?
- Me joguei embaixo do trem.
- Você se jogou ou caiu quando estava brincando?
- - Não, eu me joguei de propósito. Estava com treze anos e queria mesmo morrer. Minha mãe me abandonou quando eu tinha seis anos, meu pai já tinha morrido. A rua me adotou, mas era muito ruim... Sem o carinho de ninguém.agora tenho 17 anos, faz muito tempo que vivo na rua, mas ainda não me corrompi: Não Roubo, não cheiro, só peço... De 20 pessoas, só duas ou três me ajudam. Agora estou aqui. Quero estudar, trabalhar, crescer, ajudar e, quem sabe, formar uma família que não tive
Seus olhos se iluminaram.
-Segunda-feira você poderá começar a estudar- garanto.
Emílio abraça a professora e beija suas mãos.
- é verdade que eu posso estudar?
E seus olhos ficam marejados de lágrimas!
Pobre rapaz, adolescente, negro sofrido. Você queria morrer porque ninguém o amava. Nós queremos gerar você de novo!

Filhos do Brasil- Renato Chiera


Esse livro é emocionante. Essa história tem vários trechos que mereciam detalhadamente um texto. Mas queria ficar no sonho. Hoje quase não escrevo. Deixo que a mente de vocês divaguem.
Façam um favor. Pensem por apenas alguns segundos no que faria vocês ficarem com olhos brilhando. Pensem, pensem mesmo. Agora comparem com o sonho desse menino. Não sei quanto a vocês, mas careço de mais simplicidade. E vocês?

domingo, 27 de abril de 2008

Não exagera- A tênue linha entre a melação e o romantismo



Sou aprendiz de poeta. Sempre fui. Desde os 7 anos. Daqueles que senta no sofá, conta estrelas e depois derrama o mel nos versos. E que lambança. Palavras açucaradas, doce escorrendo até a última estrofe. Veneno letal para diabéticos e afins. Uma danação.
Certa vez me apaixonei por uma punker e ela me ensinou a vomitar no papel. Eu era um anarco-punk. Viva o socialismo, a liberdade de expressão, o mal gosto de roupas e o preço do arroz na poesia. Viva os palavrões, as ofensas, os desabafos.
Aí, conheci gente mais leve, mais engraçada e juntei com o movimento anterior: Criei, com um amigo, um blog de espírito de porco. Zoar e falar mal mas com muita ironia... Os processos nas costas ainda não me fizeram esquecer essa época...
Depois, novamente movido a paixão, voltei a escrever poesias. Confesso que elas não estavam boas, afinal tão destreinadas... resolvi apelar pra crônica. Lá foi meu refúgio... Podia romantizar, criticar, ironizar e voltar a usar a maravilhosa licença- poética... Ou seja: Xingar a vontade, errar na gramática sem problema.
Hoje escrevo poesias. Mas sem tanto doce. O mel está caro. Hoje critico a desigualdade mas com mais inteligência do que gritos roucos de uma formiga. Hoje tento aproveitar mais o realismo da vida, do que a imprudência dos devaneios. Não que eu tenha parado de sonhar. Continuo contando estrelas, caçando cometas e suspirando com momentos felizes. Mas aprendi a respeitar diferenças, opiniões e críticas. E sabe? Posso até não voar até as nuvens e me tornar uma estrela. Mas meus textos, que hoje tem de diversos tipos, buscam acender o brilho de cada um. Espero que um dia, eu acenda o seu. Com mel ou sem: a preferência é do freguês.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Últimos devaneios de abril




Acredito fielmente que existe um terreno onde meus objetivos, sonhos, planos e desejos se tornem realidade. Sigo fielmente pela estrada que vai levar lá. Deve levar lá. Tem que levar lá... Não sei, é estranho. Até entendo a razão de estar caminhando sozinho. Os sonhos já são bem específicos. Mas eu não consigo compreender porque não vejo ninguém indo em direção aos seus próprios sonhos. Alguns até chegam a caminhar até as primeiras curvas mas depois abandonam. Medo de sair do Mundo real. Medo de arriscar ou sei lá. Medo de gostar.

Sem fazer apologia a Alice, a Matrix, Harry Potter e outros mundos fantasiosos mas temos que sonhar. Acreditar em outras versões em outras respostas. As soluções não podem se restringir apenas ou é desse jeito ou não faz. Claro que o mundo real tem formas bem sorrateiras de nos aprisionar: Contas no fim do mês, sociedade gananciosa e orgulhosa. Necessidade de fazer parte, de pertencer a uma tribo e de ser rotulado.
Eu não sei. Cansei de tudo isso, coloquei na minha mala alguns centavos a mais , umas roupas do bazar e fui atrás do que me faz bem. Do que me motiva, do que me impulsiona para frente.

Se nada disso for verdade, eu posso me orgulhar de coração, de ter tido uma experiência nova e ter na bagagem uma história mais bonita do país das Maravilhas, Matrix ou Hogwarts...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mais uma de estrada

Com poder de magia ou truque de mágica,
se levantou, sacudiu, baixou a poeira, ajeitou o cabelo e escreveu mais algumas bobagens no papel:

Quanto mais eu caminho, mais sinto saudade da estrada.
E logo vi que as flores não são sempre multicores.
E o céu troveja as vezes mas chora em seguida. Deve ser arrependimento...
Percebi que a estrada fica mais áspera e quente. Dá calo no pé e vontade de voltar.
Senti que os bons ares do caminho mudam.
E as vezes o ar é tão rarefeito,
que s enão fosse uma máscara deixada para mim, não dava mais não.
Descobri tardiamente que a comitiva que andava do meu lado, desistiu ou foi para outras bifurcações.
Que o mapa que eu seguia no livro de auto-ajuda só serviu para que eu me perdesse mais.
E já algumas palavras e conselhos serviram para bons atalhos.
Percebi que alguns caminhos parecem fechados, mas se a gente insistir muito, eles sempre se abrem...

Talvez, e pensou isso enquanto ainda tinha muita poeira pela frente, o que escrevia não era de todo, uma imensa bobagem. Pelo menos não totalmente.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Um presságio


Veríssimo, o filho, já falava de defenestrar. Mas nós tão leigos, nem entendíamos o significado. Foi através de sua crônica que eu descobri que Defenestrar vem do francês fenêtre que significa janela.
Defenestrar é jogar algo ou alguém pela janela. Quando li, juro, achei engraçado. Veríssimo também. Todos os leitores também. Inventar uma palavra pra isso. Tinha que ser francês! Depois a fantástica ironia desse escritor para ilustrar os usos da palavra. O homem na cama com a mulher na lua de mel. – Amor, sou um defenestrador. E ela tímida respondendo: estou pronta para tentar de tudo. Ele aparece segundos depois no pátio totalmente quebrado e a multidão o envolve e ele diz: Fui defenestrado. E a multidão diz: - Coitado e depois ainda o jogaram pela janela!
Na época, não tinha como não gargalhar. Era fantástico. Uma das melhores crônicas que eu já tinha lido.
Veríssimo, o filho, continua fantástico. Com textos atuais, cativantes e maravilhosos. Mas essa crônica, defenestração, em particular, não me faz mais rir. Saiu da crônica, aqueles textos críticos da segunda página do jornal para a primeira manchete.
E perdeu a graça, perdeu a magia. Perdeu o encanto. Perdemos a Isabela.

sábado, 12 de abril de 2008

Mais devaneios, capelos e gaivotas de abril



Quanto tempo temos? Não muito, não muito. Mas é suficiente? É suficiente? Depende. Depende da intensidade do seu vôo.

Eu já falei algumas vezes que nunca mais faria algo. E me vi meses ou semanas depois repetindo com o mesmo cinismo e fazendo as mesmas projeções futuras.

Reza a lenda que não se deve dizer nunca, nunca! Pelo visto, acertaram em cheio.

Já sonhei com princesas e acordei com dragões, já implorei por riqueza e vibrei com a sua escassez, já fiz planos mirabolantes e decido largar tudo pra ser feliz. E até agora, nessa decisão vou bem...

Se você pudesse escolher apenas por hoje, o que fazer nessa manhã, entre qualquer coisa, o que você escolheria? Meu medo é passar o dia inteiro em casa tentando decidir...

Já parou pra pensar que o grão de arroz que você comeu hoje, você nunca mais vai ver? Cuidado, esse pensamento é meio depressivo...

Uma das questões mais contraditórias na vida é saber se devemos tentar o cotidiano ou as aventureiras mudanças. E não tem jeito, a melhor resposta é ficar em cima do muro e aproveitar das duas linhas.

Nunca procurei, apesar do meu fascínio, a palavra liberdade no dicionário. A explicação pode ser meio clichê mas deve ser pra eu ser livre de sonhar com a definição que me couber.

Certa vez acordei sobressaltado na madrugada pensando que tudo que havia pra se fazer na vida, eu já tinha feito. Tudo, tudo mesmo. No sobressalto, escrevi esse texto, planejei mais 10 fatos inéditos e voltei a dormir.

O vídeo acima é do filme Fernão Capelo e Gaivota. Recomendado a todos sem restrição etária, poética e filosófica.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Desabafos de abril

“Os homens são humanos. Demasiadamente humanos” Nietsche



Analistas de merda

Ficam tentando me engaiolar nos seus padrões freudianos e junguianos. Será que não percebem que sou normal demais para vocês? Que aberrações clichês só existem na televisão depois de uma nova roupagem do marketing?
Estou fora do padrão de vocês. Falo demais, bebo mais do que drinks de frutas, xingo alto, choro, explodo de tristeza e dou gargalhadas de alegria. Isso tudo em questão de minutos.
Fico calado e engulo verdades e depois saio atirando pra tudo que é canto. Sou babaca, imaturo, orgulhoso playboy de faculdade rica que se junta com pobres, desvalidos, sujos e mal cheirosos. Eu Jogo futebol, assisto golf e cricket , amo sanduíche de brie com damasco mas se não tiver me entupo de angu com feijão. E ainda repito estalando os lábios. Vai tentar me enquadrar? Então bota aí: revoltado. Mas não esquece de dizer que respeito os 10 mandamentos, não saio xingando a torto e a direito e sou polido. V ai encarar? Vai enquadrar? Me esquece!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Devaneios de abril...

As coisas estão piorando. Já tenho notado mas ontem foi a constatação mor. Recebi uma propaganda de um cruzeiro para universitários prometendo orgias, lindas mulheres e 4 dias de muito prazer. As fotos estavam realmente bem convidativas evidenciando o grande barco, suas acomodações e lindas mulheres agarrando homens e tomando drinks azuis, verdes e chamuscantes... Até que reparei lá embaixo , quase invisível com uma letra semi-microscópica: “Imagens fantasias. Não correspondem com a realidade. "

O que significa? Que em vez de ser um belo cruzeiro de 5 andares vai ser uma jangada ou um bote de plástico com cheiro de guardado? Que as bebidas azuis, verdes e chamuscantes nada mais são do que copos de cachaça com anilina? Que as mulheres na verdade são transformistas?
Não sei. Fiquei olhando o flyer pensando...


Realmente tudo hoje é imagem fantasia.



Fiquei pensando nas máscaras que usamos todos os dias. Alguns tem centenas. No final, não sabemos como a pessoa realmente é. Gosto muito da definição do Shrek que somos todos cebolas: cheios de camadas.
Dessa forma, não iludimos ninguém. A sociedade do espetáculo. O teatro das máscaras ou das sombras. Ou apenas fantoches baratos vendidos em camelôs.
E se quiser, continuo mostrando a teoria da conspiração. Se você toma aquele adoçante Zero Cal líquido, vire ele leia seu rótulo: “Nome fantasia. Contém caloria.”
Anúncios de cerveja e de carro botando mulheres maravilhosas do seu lado. Atletas tomando refrigerante! É tudo fantasia. Talvez eu mesmo seja uma. No final de cada texto, talvez fosse melhor terminar dizendo: os personagens são ficcionais, não tente fazer isso em casa, você não deveria ler algo de alguém que nem sabe se existe realmente.
Tudo pode ser uma farsa. Uma estratégia de marketing, o uso de uma tecnologia inovadora que você ainda desconhece...
Esse papo todo me cansou. Vou deitar na minha cama (ou na que eu acho que é) e ter os meus sonhos que cada vez mais ficam melhores que a realidade em si.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Não parem de escrever!



Exibam sua alma em forma de textos. Eu imploro, eu careço!
Digam sues pensamentos, suas idéias, seus devaneios. Eu preciso, eu desejo, eu anseio!
Joguem Palavras ao Vento, gritem que tudo que precisam é amor, é inspiração, é se completarem. Se vocês, minha outra metade é vazia, metade repleto, completo, inquieto. Não parem de escrever, não parem de desenhar seus sentimentos no papel.
Mostrem suas filosofias, suas idéias, suas versões e aversões. Deixa eu me preencher com seus poemas, com suas críticas., Deixa-me ver vocês nos seus desabafos. Deixa eu entrar nessa intimidade permitida e contribuir com cafunés ou palavras amigas.
Deixa eu compartilhar meus medos e mostra a vocês como somos idênticos mesmo vivendo em realidades tão distintas.
Mostre-me a misticidade de Brasília, os segredos obscuros de São Paulo, as belezas do sul, os encantos do rio.
Ensinem-me a ver ávida com seus olhos. A crescer com vocês. Vamos construir mundos, palácios literários, versos cooperativos.
Vamos fazer mudanças ou simplesmente propô-las... vamos fazer história!
Esse texto dedico em especial a Paty Augusto, Deise, Mare e Luiza... Força meninas, vamos em frente!